26 junho 2012

Um copo de nada.


Haviam jogado um copo de veneno sobre a mesa. Veio de longe, como uma bomba que aparece repentinamente e destroça em pedaços aqueles tantos pedaços que refletem a possibilidade de sentir. Ela sempre preferiu carregar a solidão como uma porta aberta, sem avisos e sirenes. Olhar o veneno não doía tanto tais vistas, ela só se encantava com a fresta de fumaça que começava a se formar quando tudo foi inicialmente corroído. De longe a queda havia sido amparada por um grande colchão de ar, feito de saudade. Haviam jogado um copo colado de remendas, mas não havia veneno. Como um grito formando-se de um eco, ele havia desaparecido. Não havia indícios e todos na sala começavam a procurar em seus bolsos, em suas costuras, em seus buracos, mas nada encontraram. A menina só sorria.
Estava frio e era estranho como o tempo continuava brincando com o relógio de cabeceira, pulando de ponteiro em ponteiro, sem intenção de parar. Descansa um pouco, tempo. – Dizia ela. Você parece tão cansado. Cansado? Como alguém em sã consciência poderia descansar com o sumiço do veneno? A menina sorria.
O tempo guardava surpresas e o seu dedo mindinho acariciava-o. Sente cócegas? Ela escutava o desespero daquele sorriso fingido de longe, mesmo nunca tendo gostado realmente de cócegas. O céu escuro já recobria o céu e as pessoas ainda estavam ao redor da mesa. Será que ela precisaria fechar a porta? Ninguém poderia entrar em seu mundo. Coisas frágeis se quebram ao menor toque e aqueles indivíduos não tinham a intenção de sair dali tão cedo.
Ela arrumou a casa, trocou o lençol sujo, lavou a toalha e trancou suas sete chaves na porta. Agora, sim. Respirou aliviada e foi novamente olhar aqueles pequenos burburinhos que ansiavam por uma nova explicação. Já haviam explicado? Ela não havia escutado. Ficou curiosa, mas ao mesmo tempo esqueceu a curiosidade. Curiosidade mata. Ela não podia ser assassinada justamente com o sumiço do veneno. A resposta seria fácil demais para aquelas pessoas e ela até gostava daquele barulho silencioso de olhos que gostavam de falar. Sabia que olhos falam? Sim. Eles têm pequeníssimas boquinhas com dentes para triturar qualquer vestígio de felicidade. É uma pena que um olho não consegue enxergar a própria face, precisando, para isso, que outra pessoa segure um espelho. É difícil tentar se enxergar através de um novo olhar. Por isso, a menina preferiu prender o dela na parede. Ficaria mais firme no momento que ela desejasse enxergar suas fraquezas.
O céu se cobriu. Tantas pessoas juntas deixaram o tempo frio e, com isso, o dia foi embora. Alguns olhavam para a mesa, outros negavam, outros simplesmente fingiam não estar diante daquela situação esquisita, mas, mesmo assim não partiam. A menina havia encontrado amigos que vieram procurar o veneno. A menina encontrou alguns familiares que haviam se perdido naquela imensa árvore que só fazia crescer. Era uma prima, um tio, pai do tio, irmã da prima. Tantos sorrisos que só apareciam para matar sua sede de curiosidade. Servidos? Ainda tenho veneno na geladeira. Refresca, leva os medos embora. Será que dói? A menina não sabia, seus olhos mentiam e ela só conseguia sorrir.
Dias passaram, horas, o tempo mudou as estações e as pessoas envelheciam diante daquele marasmo. Você é feliz? A menina ficava curiosa, mas ninguém se interessava naquilo. Como um veneno poderia evaporar no ar?
Você é feliz? O que seria a felicidade? Um garotinho sentado no canto da sala sorriu. Ela entendeu. Foi você? Ele perguntou, ela sorriu.
De repente um bebê chorou. Nasceu? Os olhares se voltaram para a menina que havia usado drogas e para a irmã que havia brigado com o irmão. Burburinhos, burburinho e novos burburinhos voltavam. Dessa vez as pessoas caminhavam e a mesa ficou vazia novamente. A menina tentou catar tantos pedaçinhos, mas alguém gritou cuidado, de longe. Ela sorriu, sabia lidar com a dor.
Todos partiram, depois de anos de espera. Falaram tanto que ninguém encontrou a resposta. A menina sorriu. Estava frio e seu corpo estava cansado. Ela catou os cacos, retirou o lixo, bebeu um resto de água e foi dormir.
Melhor assim. A solidão é amiga para aqueles que têm medo de olhares famintos. Ela preferia assim, preferia partir. Sorriu. Como eles não perceberam? Falavam tão alto e a resposta estava ali, diante de todos os olhos. Como são tolos, não?

12 junho 2012

Novo e sempre.

Ele se mostrou através de um sorriso. Tinha tanta beleza e carregava no corpo um pouco de cansaço. Poderia ter um minuto para conversar? Perguntava tímido. No mais tardar, você poderá dormir com o nascer do sol. É interessante sentir a noite, de vez em quando. Perceba menina... A noite é bonita! - diziam suas palavras. Se você ficar com medo, deixe-me segurar tuas mãos.
E assim foram-se segredos. Portas fechadas que se abriram e algumas lágrimas foram libertadas. Reencontramos uma amizade pouco vivida do passado. Recordamos antigas cartas não correspondidas e o anonimato revelado se estendeu em meio a tanta timidez.
Felizmente, palavras não foram necessárias. Ele simplesmente vestia a camisa que ela achava mais bonita e ela guardava aquele poema que havia sido escrito, em seu coração. A coragem estava fortalecida, as cartas haviam sido guardadas, aqueles olhos precisavam se encontrar. Os dois dançavam a mesma melodia e, segundos depois, já riam de histórias passadas. Será que ela gostava de mim? Ela gostava. Ela precisava guardar a saudade dentro de gavetas, até o armário se encher. A casa, o coração. Tudo guardava um pedaço do cheiro, do abraço, das velhas conversas e risadas. Poucos beijos que se tornaram muitos.
Ele abaixava a cabeça. Afagava o corpo dela, pedia para voltar. Ele sentia saudades. Trazia de longe sua essência, suas flores, suas cartas. Ela sabia que poderia esperar. Aqueles olhos eram lindos demais. Aqueles olhos poderiam ensiná-la a mudar suas direções.
Foi quando de repente o escuro se tornou claro e o mundo inteiro passou a cantar a mesma melodia. Os que corriam deixavam de lado o tempo pelo prazer do sentir. Era o momento de sentir. Foi-se uma chuva. Foi-se o sol, as estações. Foi-se o céu, a terra. E quando dois destinos transformaram-se em um, ela sentiu.
Dias não interessam. As horas são pequenas. Meu braço te abraça a todo instante. Teu sorriso é o meu companheiro fiel. Ele guardava as promessas. Ela não gostava de promessas.
-Promete me amar? – Dizia.
Ela respondia com o olhar e, mesmo sem gostar de promessas, ela prometia. Ele já havia sido um sonho, um dia. Ela não o deixaria partir.
Lindo é você.
E com as mesmas cores, com o mesmo olhar, a mesma camisa, a bota, as poesias e livros, o café, ele partiu.
Mas ela o encontraria. Um mesmo destino não se desprende em dois caminhos distintos. E, juntos, os dois iriam caminhar. E, juntos, até que o infinito desista daquele amor. Para sempre e sempre.

Para você, Ti, que é o bolo mais lindo e carinhoso desse mundo todo!

Um feliz dia dos namorados para todos!
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