11 outubro 2014

Estranho como palavras podem simplesmente sumir em meio a um pequeno redemoinho que faz estragos necessários. Estranho como o tempo passa sem ponteiros, sem nexo, sem pretensão de voltar atrás para apagar os remendos de uma dor que fica e ainda sangra, só por sangrar, nada mais.
A menina vestia roupas antigas e escutava músicas felizes que ainda conseguiam fazê-la chorar. O sol era chuva e o vento agora estava cheio de sentimentos partidos, que ela sozinha não conseguia mais entender. Estava sozinha, nada mais.
A menina olhava as estrelas no céu, repartindo ainda mais o seu coração em sentimentos vazios de dor que a faziam correr para longe dali... Mas, correr nunca foi uma solução. Sempre distante, a menina deixava o salgado das mesmas lágrimas escorrerem em suas bochechas rosadas e frias de um vento pouco ameaçador.
O dia estava frio, ainda. E, de longe, a menina conseguia escutar alguns pássaros cantando, distantes, como se estivessem reencontrando antigos amores que partiram sem nenhuma explicação. Ela fechava os olhos e não sabia de onde surgiam tantos sentimentos que apertavam o seu peito e sugava ainda mais o seu coração para longe dali. Era difícil estar e ser em meio aquela multidão que andava perdida, sem pretensão de parar.
Estava escuro e o sol brilhava intensamente no céu. As ondas daquela praia não paravam de bater nas pedras, destruindo-as aos poucos, como um coração repartido que coloca os seus pedaços em uma mala velha e distribui para as mesmas memórias antigas. Vozes estranhas conversavam e a menina só sentia vontade de ficar com os olhos fechados, perdidos na sua imaginação de menina que ainda sonhava e sorria somente pela possibilidade de ainda conseguir sonhar.
Por qual motivo a vida consegue destruir sonhos? – Pensava ela, ainda distante. Seus olhos de menina encaravam tudo ao seu redor, mas não enxergavam nada... Logo ela que sempre gostou de enxergar. É, menina, agora você precisa aprender a enxergar no escuro... Mas, era muito estranho conversar consigo mesmo. Era um momento difícil, turvo, nada mais... E ela ainda precisava sorrir. Como? Sorrindo, só isso.
A menina escutava histórias e contava risadas para que pudesse escutar o riso de amigos estranhos. A menina desenhava a vida sem muitas pretensões e de repente, ela conseguia perder a vontade de lutar, de novo. Ela estava vazia, fraca e não tinha muitas pretensões em seguir, a partir dali. Era tão difícil viver, pensava ela.
Mas, o dia nascia todos os dias e o espírito de menina ainda conseguia captar aquele vento novo que trazia consigo a esperança de um recomeço. Como uma criança, ela aprendia novamente a andar, sentindo a dificuldade de sustentar um corpo pesado em pernas pequenas que nunca antes havia sentido o chão tão frio. Estava sempre frio naquele coração cheio, mas ela gostava daquilo... Aquilo era a sua essência de menina, era a sua sensibilidade que tinha como consequência o sentir, acima de qualquer coisa.

Você pensa que sabe de tudo, menina. Mas, de nada você sabe. A vida corre como um rio revolto, menina... É impossível acompanhar se você preferiu aprender a escutar com os olhos. Para ser sensível, é preciso pagar um preço, mesmo que essa escolha não tenha vindo do seu próprio coração. Aprenda a gostar dos sentimentos e saiba que a tristeza pode ser tão linda quanto a alegria, e dela você pode encontrar novos sentidos e explicações de dúvidas que nunca serão supridas. Aprende a ser, menina... Encontre razões distintas e aprenda a ser, nada mais. Aprenda a devorar o mundo de amor e, vez ou outra, sente no córrego e veja as coisas passarem com as tuas lágrimas. O respirar desse momento é a melhor maneira de recuperar a sua força e a sua vontade em vencer. Acredite, a vida ainda é linda e viver ainda é a melhor maneira para encontrar as razões que enriquecem as tuas angústias. A vida é assim, menina. Assim é a vida.


20 março 2014

Ciclos.




Sinos da meia noite despertaram um cansado sono de menina que fantasiava entre sonhos e devaneios de uma noite comum. Sem temer um sonho despertado, a menina resolve abrir os olhos, deixando a escuridão calada entrar devagar pelas frestas de uma janela fechada, que a protegia da solidão e do silêncio que vagavam perdidos fora dali.
No conforto do seu despertar, a menina devaneava pensamentos com pouco sentido, deixando somente que a sua respiração calma tomasse conta do seu espírito e da sua mente vazia e sonolenta. Era mais um despertar comum, sentido e vivido entre um silêncio incomum de carros que passavam apressados e faróis que pareciam estar distantes dali. Da janela, a menina só conseguia ver uma luz fraca, vinda de um poste velho de rua que havia se sentado em sua frente para que ela não sentisse medo... E assim, ela agradecia.
Passando pela janela, a luz pintava as suas cores, deixando o amarelo transformar-se em laranja e em sombras, que se mexiam como um vento frio de inverno. As pequenas frestas claras de luz que insistiam em entrar naquele quarto vazio preenchiam de alguma forma algo que ainda estava desacordado e que a menina ainda não conseguia encontrar. Estava escuro, havia silêncio e de longe aconteciam ciclos de vida que começavam e terminavam naquela madrugada indiferente.
A menina não queria fechar os olhos, estava indiferente ao seu cansaço. Não havia sol, não haviam sorrisos e também não havia lágrima, nem tristeza. Só havia indiferença. A menina sabia que a partir dali seria só mais um novo dia vestindo uma rotina que insistia em parecer diferente, mas era sempre igual. Era um novo acordar, um café, um sol, alguns desconhecidos com sorrisos estampados e um pouco de cansaço revestindo um amanhecer diferente daquele. Era a rotina, pensava a menina enquanto, automaticamente, escolhia a sua roupa, vestia-se com a sua timidez e partia em busca de sonhos repartidos e remendados. Ela partia em busca de uma nova rotina, de um novo tempo, que sempre parecia igual. Mas, naquela noite, as luzes dançavam de uma maneira diferente. As luzes faziam curvas no armário e desenhavam pequenas bolhas que pareciam sumir por trás da grande porta de madeira. A diferença fez então com que um sorriso se esboçasse no rosto da menina, que gostou e sentiu intensamente aquele novo ciclo ou aquela nova página que se virava naquele exato momento.
Naquele instante, a menina percebeu que o sorriso pode estar escondido nos pequenos detalhes e que a diferença está viva dentro da particularidade de um olhar... Só era preciso enxergar e perceber que em cada página, temos novas vogais, novas palavras e novos pensamentos. Assim, a menina percebeu que não precisaria esperar um novo amanhecer ou um novo dia para que as coisas continuassem... Para acontecer, bastava que ela entregasse a sua existência e conseguisse viver com um novo olhar a cada novo dia.

Páginas são viradas a todos os momentos, novos ciclos virão e novos passados serão concretizados e deixados para trás. Para seguir, é necessário deixar que um novo amanhecer nasça dentro do seu coração, deixando, assim, que uma nova vida e um novo despertar sejam concretizados no âmago da sua existência. E assim, algumas coisas serão saudade, e só... E para sempre vão existir dentro do coração, em forma de um amor puro e sincero. Esse é o passado que buscamos ao abrir o nosso coração para tantos novos recomeços.



02 setembro 2013

Saudade.

A saudade é como um papel em branco, sem colorido... É como um sorriso calado ou um grito sem palavras. Saudade é assim: Vazio, branco, sem cor e sem reflexo.
Saudade é uma pegada que foi apagada pelo vento. É um passado presente na memória daqueles que sentem e que buscam um refúgio somente na expectativa do encontro.  A saudade traz consigo o suspiro de uma espera, que aparenta eternizar-se no peito daqueles que tentam acostumar-se a enxergar com os olhos da solidão. Sim, com a mesma solidão que traz companhia e recordações. É a solidão amiga, que ajuda a crescer e pensar.
A saudade também carrega com as mãos, segura o apelo com os braços e pede paciência. Paciência. Onde será que a paciência se escondeu? Será que se apagou? Será que foi embora? Estranho pensar que a paciência também perdeu a paciência e partiu com suas malas em busca de um novo começo. Onde estaria o começo? Seria um início ou um recomeço? Seria o recomeço um início? Seria como se fosse a mesma vida com um novo olhar. Portanto, um recomeço para um novo início.
Não posso refazer passados. Não posso modificar memórias. Algumas, o tempo esquece por ele mesmo e outras permanecem sempre, como um pequeno suspiro, uma lágrima ou um pôr do sol inesquecível. Seria um passado de saudade. Seria uma saudade do passado ou um passado cheio de saudade? Seria só saudade, ou somente algumas memórias esquecidas. Tanto faz.
A saudade é um papel sem cor. Estranho pensar na saudade como algo vazio. Afinal, como algo vazio pode pesar tanto? Doem as costas, os ombros, as mãos. Até as lágrimas aparentam estar pesadas de algo feito de imaginação, fora do comum, distante daqueles que não conseguem sentir.
A saudade abraça, faz carinho, coloca para dormir. Saudade esquenta, saudade esfria. Saudade encoraja, saudade assusta. Mas, é bom, não? Precisamos do medo para saber o que é a coragem. Precisamos do calor, para descobrir o desconforto de uma noite fria. Precisamos da dor, para saber o que é um sorriso repleto de felicidade. Precisamos do amor, para saber o que é a raiva. Precisamos da distância, para redescobrir a saudade...

E a saudade fica, mesmo para quem vai. A saudade está, mesmo quando ela se transforma em lembrança. A saudade é amor. Saudade é prova de saudade... É quando um coração se divide e segue caminhos distintos. Por isso, saudade é vazio. Saudade é vazio porque carrega alguns pedaços do coração para longe, mesmo sabendo que alguns nunca voltarão. Saudade é privilégio para os que sabem amar. Só com amor, descobrimos a dor de viver com a falta daqueles que te alimentam da felicidade.  Então, eu prefiro sentir saudade e saber que aos poucos vou preencher novamente a minha bagagem de amor. E assim sou, e assim vivo. Repleta de saudade, repleta de vazio, repleta de amor.





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