Estranho como palavras podem
simplesmente sumir em meio a um pequeno redemoinho que faz estragos
necessários. Estranho como o tempo passa sem ponteiros, sem nexo, sem pretensão
de voltar atrás para apagar os remendos de uma dor que fica e ainda sangra, só
por sangrar, nada mais.
A menina vestia roupas antigas e
escutava músicas felizes que ainda conseguiam fazê-la chorar. O sol era chuva e
o vento agora estava cheio de sentimentos partidos, que ela sozinha não
conseguia mais entender. Estava sozinha, nada mais.
A menina olhava as estrelas no
céu, repartindo ainda mais o seu coração em sentimentos vazios de dor que a
faziam correr para longe dali... Mas, correr nunca foi uma solução. Sempre
distante, a menina deixava o salgado das mesmas lágrimas escorrerem em suas
bochechas rosadas e frias de um vento pouco ameaçador.
O dia estava frio, ainda. E, de
longe, a menina conseguia escutar alguns pássaros cantando, distantes, como se
estivessem reencontrando antigos amores que partiram sem nenhuma explicação.
Ela fechava os olhos e não sabia de onde surgiam tantos sentimentos que
apertavam o seu peito e sugava ainda mais o seu coração para longe dali. Era difícil
estar e ser em meio aquela multidão que andava perdida, sem pretensão de parar.
Estava escuro e o sol brilhava
intensamente no céu. As ondas daquela praia não paravam de bater nas pedras,
destruindo-as aos poucos, como um coração repartido que coloca os seus pedaços
em uma mala velha e distribui para as mesmas memórias antigas. Vozes estranhas
conversavam e a menina só sentia vontade de ficar com os olhos fechados,
perdidos na sua imaginação de menina que ainda sonhava e sorria somente pela
possibilidade de ainda conseguir sonhar.
Por qual motivo a vida consegue
destruir sonhos? – Pensava ela, ainda distante. Seus olhos de menina encaravam
tudo ao seu redor, mas não enxergavam nada... Logo ela que sempre gostou de
enxergar. É, menina, agora você precisa aprender a enxergar no escuro... Mas,
era muito estranho conversar consigo mesmo. Era um momento difícil, turvo, nada
mais... E ela ainda precisava sorrir. Como? Sorrindo, só isso.
A menina escutava histórias e
contava risadas para que pudesse escutar o riso de amigos estranhos. A menina
desenhava a vida sem muitas pretensões e de repente, ela conseguia perder a
vontade de lutar, de novo. Ela estava vazia, fraca e não tinha muitas
pretensões em seguir, a partir dali. Era tão difícil viver, pensava ela.
Mas, o dia nascia todos os dias e
o espírito de menina ainda conseguia captar aquele vento novo que trazia
consigo a esperança de um recomeço. Como uma criança, ela aprendia novamente a
andar, sentindo a dificuldade de sustentar um corpo pesado em pernas pequenas
que nunca antes havia sentido o chão tão frio. Estava sempre frio naquele
coração cheio, mas ela gostava daquilo... Aquilo era a sua essência de menina,
era a sua sensibilidade que tinha como consequência o sentir, acima de qualquer
coisa.
Você pensa que sabe de tudo,
menina. Mas, de nada você sabe. A vida corre como um rio revolto, menina... É
impossível acompanhar se você preferiu aprender a escutar com os olhos. Para
ser sensível, é preciso pagar um preço, mesmo que essa escolha não tenha vindo
do seu próprio coração. Aprenda a gostar dos sentimentos e saiba que a tristeza
pode ser tão linda quanto a alegria, e dela você pode encontrar novos sentidos
e explicações de dúvidas que nunca serão supridas. Aprende a ser, menina...
Encontre razões distintas e aprenda a ser, nada mais. Aprenda a devorar o mundo
de amor e, vez ou outra, sente no córrego e veja as coisas passarem com as tuas
lágrimas. O respirar desse momento é a melhor maneira de recuperar a sua força
e a sua vontade em vencer. Acredite, a vida ainda é linda e viver ainda é a
melhor maneira para encontrar as razões que enriquecem as tuas angústias. A
vida é assim, menina. Assim é a vida.