14 setembro 2011




Nunca deixe que a dúvida te impeça de tentar.
A vida sempre estará repleta de desafios, menina. Cabe a você escolher se vai colher sorrisos ou lágrimas.
Tudo depende do ponto de vista. Ou não?
Melhor pensar que o medo é um companheiro fiel. Afinal, sem ele não existiria coragem. Ou não?
Tudo passa. Mude o olhar. Mude a direção.
Grandes coisas simplesmente tornam-se pequenas.
Ou não.
Que tal tentar cobrir a lua com um dedo?
Viu? Não é tão difícil assim.

20 junho 2011

Desilusão.





Joana só conseguiu escutar o silêncio quando percebeu que estava sozinha. Dias passam, Joana. Horas passam. Momentos devem ser esquecidos em sua memória para sempre, e para sempre serão lembrados como tristes lembranças de um passado que se foi.
Joana tentava respirar e sentir o seu corpo. Sentir a única coisa que havia sido sua por tanto tempo e que ela sabia que não a deixaria sozinha. Joana não precisava chorar, mas seus olhos guardavam tantas dores que nunca a deixaria ser forte o suficiente. Ela se sentia fraca demais para suportar aquela dor. Horas passam, Joana. Dias passam. O tempo passa. O tempo acaricia, assopra em seu ouvido e te avisa que já é hora de seguir. Seria bom abrir os olhos, Joana. Seria bom abrir asas e procurar seu verdadeiro horizonte. Seria bom deixar passar, Joana. Passe. Não deixe os passos passarem diante de ti como flashes de uma utopia. Agora é hora de mudanças. Você precisa encarar.
Mas Joana não conseguia suportar aquela dor. Cada segundo passava rasgando seu coração em pedaços. Ela queria gritar, jogar tudo para um lugar longe, distante de sua vida, de seus olhares. Ele havia partido, ela sabia. E nunca mais aqueles olhos seriam seus novamente. Abraços, beijos. Mais uma vez o amor havia sido descartado e Joana precisava seguir. Ela olhava para aquele ambiente vazio, tentando encontrar resquícios de uma nova solidão, mas seu peito de enchia de saudades. Uma saudade dolorida, sem ter pretensão de ir embora. Saudade que bate na porta do peito e entra em ser convidada, invadindo pensamentos, incluindo novos medos. Joana precisava trancar seu coração por um tempo. Ela precisava guardar o coração. E se a dor ficasse no peito? Joana precisaria arrancar pedaços de seu corpo. Seria difícil. Joana decidiu guardar as lembranças. Ela pegou as malas. Guardou fotos, histórias, sorrisos, presentes e aconchegos. Joana guardou tudo. Não restou nada. Ela olhou atentamente para aquele espaço vazio. Ela precisava preencher aquilo antes que seu corpo ficasse fraco e desistisse daquela decisão. Joana olhou novamente para aquele vazio. Será que seria agradável?
Olhar o vazio a fazia lembrar aqueles olhos. E ela lembrava do último beijo, do último carinho. O vazio trazia lembranças daquele farol iluminando a dolorosa partida, da decisão, de toda a desilusão que ela foi forçada a sentir. Joana segurou o peito e tentou arrancar o próprio coração. Ela tentou gritar suas vísceras, jogar seu medo para o passado. Ela precisava aceitar. Ela precisava encontrar seu novo eu perdido naquela imensidão de lágrimas. Joana lembrava dos abraços. Joana lembrava dos abraços. Pés juntos, Joana. No frio um abraço cura, ela sabia. Por isso ela separou um novo cobertor. Ela separou uma nova cama, uma nova pintura, uma nova vida. Ela separou as velhas lembranças, colocando-as em um lugar que não poderia encontrar tão cedo. Quem sabe um dia elas não poderiam se tornar agradáveis lembranças de um doce passado? Joana pintou sua vida. Era preciso controlar as lágrimas. Ela as enxugou, e mais uma vez as enxugou novamente. Joana foi até um canto antigo e retirou outra mala. Essa era a mala de sonhos, era a mala de vida. Joana a abriu. Ela sabia que ainda poderia encontrar sorrisos. Ela sabia que iria vencer. Bastava acreditar, ela sabia. E assim um coração começou a remendar seus próprios pedaços. E os pés sentiram uma firmeza necessária para partir. O corpo respirou. Joana sorriu. Joana chorou. Joana guardou aquilo. Joana procurou. Joana sentiu que certas forças iriam aparecer. Ela precisava sentir aquela dor. Ela precisava aprender. Afinal, o que é vida senão um manto de desilusões e acertos?
Era preciso viver. E a vida traz suas próprias dores. A vida ensina, Joana. A vida ensina como se deve respirar. A vida ensina a não errar com os próprios erros. A vida ensina a escolher. A vida ensina.




file://http://www.youtube.com/watch?v=iJgiCr26Okg&feature=related



"Hear me
Take me

Mold me

Break me a God

Just fill all of me

As i fall Into you"

















15 maio 2011

Passando o silêncio.


A cama estava dura demais, pesada demais, vazia demais e Joana estava sozinha, perdida em uma imensidão de lágrimas que insistiam em guardar a mesma tristeza naquele velho coração. O dia estava claro, mas um olhar triste apaga boas marcas de felicidade, deixando a escuridão transparecer em um destino ainda não encontrado.  O sangue que palpitava daquele velho coração era o único resquício de vida que havia permanecido naquele olhar morto. Era difícil viver sem sentir as marcas de um coração leve, sem preocupações significativas.
O tempo passava devagar. Será que o tempo passava? Joana estava incerta se um dia viveria a intensidade de um amor que ela havia deixado escapar de suas próprias mãos. Ela sabia o que devia ser feito. Ela precisava se entregar novamente, mas as marcas do ressentimento a impediam de descobrir a face do perdão. Ela não queria perdoar.
Já era tarde. Ele ainda não havia chegado. Joana não o esperava mais, ela não fazia mais isso. O silêncio construiu um muro vazio entre os dois, deixando mágoas de palavras escondidas por baixo daqueles móveis cheios de lembranças.
Ela sentia vontade de olhar novamente para aqueles olhos, mas o medo de encarar a realidade a impedia de buscar a proximidade daquele momento novamente. Era tarde demais e a ferrugem do desgaste estava cada vez mais evidente naquela relação. Conversas não eram mais suficientes, deixando que as brigas se tornassem a realidade naquele cubículo duro, pesado vazio.
Já era tarde. Meninos nunca abraçam quando precisa-se de um. Menino vai embora e Joana fica só. Ela sente saudade de tantas lembranças. Ela queria aquele amor novamente, mas não tinha forças para encarar seus próprios medos. Como se pode amar se nem sabemos ao certo o é o amor?
Fica tarde Joana. Se os olhos ficarem fechados tudo fica tarde. O tempo passa tarde, as horas não passam e novos amores só conseguem sentir o gelo daquele ambiente escuro.
Era difícil. Tanta espera a deixava ainda mais cansada, e ela não tinha tantas perspectivas de que algo poderia mudar.
Ela escolheu se acomodar. Ela queria esperar a flor brotar daquele concreto novamente. Tudo é possível, ela sabia. Ela só não sabia como poderia deixar aquela história passar diante de seus olhos.



08 maio 2011

Dia de mãe. S2


Existe um mundo onde não existem distrações. Onde as pessoas se encontram todas as tardes em uma grande praça antiga, cheia de flores e árvores de vida. Nessas árvores alguns espíritos flutuam de olhos fechados, deixando o transparente de seus corpos à vista naquela imensidão  de beleza e quietude. As horas não passam naquele ambiente, deixando que o vento e a sombra possam orientar as estrelas às suas rotinas diárias. Esse mundo é calado para quem não sabe ouvir. As verdadeiras palavras são expressadas em sentimentos, através de abraços e sussurros de perdão. Mesmo sem horas o tempo passa devagar, às vezes tarde. E quando cada segundo encontra sua respectiva hora, a praça se enche de pessoas estranhas e de amor. É hora de escolher. Era hora de partir.
Uma linda sinfonia tocava naquele ambiente e mesmo as pessoas que não conheciam o amor passavam a descobrir um sentimento muito maior e efêmero. Tudo se congelava naquele instante, menos as pessoas que se abraçavam e sorriam como se soubessem que aquilo seria uma despedida.
Quando tudo se calava, todos sabiam o que poderia acontecer e se amontoavam em um canto da praça, próximo aos leões, que rugiam e determinavam certo poder naquele local. Foi nesse instante que chegaram alguns seres distintos. Eles voavam e vestiam capas brancas, bordadas a ouro. Todos sentiam vontade de tocar naqueles símbolos e analisar cada ponto, como se fosse uma mágica que deveria ser descoberta. Mas ninguém se atrevia. Ninguém se aproximava, pelo contrário.
As pessoas choravam de emoção, deixando transparecer tantos sentimentos que foram trancados no cadeado da vida. Algumas se ajoelhavam, não queria partir. Elas nunca haviam encontrado tanta paz em toda a sua vida. Mas elas iriam. Elas precisavam ensinar o amor a alguém, já era hora de cultivar novamente a árvore da vida.
Os seres de capa eram anjos e as pessoas na praça eram mulheres. Os anjos abraçavam cada mulher e sussurrava em seus ouvidos tudo o que deveria ser passado um dia. Algumas sorriam, outras choravam. Era uma mistura de emoções sem fim.
- Suas características foram ditas. Quero que vocês se adequem a algum desses frutos e os ensinem. Já está na hora do mundo se tornar um lugar melhor. - Um dos anjos sussurrou tão baixo que a sua voz parecia um doce e frio vento.
As mulheres então escolheram seus espíritos e nasceram novamente. Os espíritos da árvore deveriam esperar a hora daquelas mulheres e, somente quando estivessem prontas, receberiam seus frutos e os amariam com um amor vivenciado pelos anjos do céu.
Aquelas mulheres seriam mães. Aquelas mães descobririam a verdadeira face do amor.




Dia de mãe merece um texto só pra ela. Dia de mãe que é seu minha mãe, que deveria ser comemorado todos os dias, todas as horas.
Você é linda, mãe. Dona dos olhos mais lindos, dos abraços mais acolhedores e das melhores palavras. Você é um pouco de mim e eu sou muito de você. Você é minha eterna menina de sorriso doce.
Eu te amo, você sabe. Te agradeço por tudo. Pela paciência, pelas palavras, pela sua dedicação incondicional.
Seria injusto dizer que você é a melhor mãe do mundo, mas você foi feita pra mim. Cada pedaçinho seu se combina comigo e às vezes eu me surpreendo por ser tão igual a você, que sempre foi minha inspiração. Então, para mim, você é a melhor mãe. E eu sei que ninguém iria exercer esse papel tão bem quanto você.
Somos cheios de defeitos, eu sei. Mas as recordações da minha vida são ainda melhores por ter tido você ao meu lado. Sempre vou me lembrar das danças no espelho, dos desenhos, das filmagens, das músicas, das palavras, das brigas e ensinamentos. Sempre vou me lembrar.
Obrigada por tudo.
Conta comigo sempre.
Vou ficar te esperando aqui para te encher de abraços e beijos, do jeito que você merece.
TE AMO!

Mila.



01 maio 2011

Um sonho.


Acordei em um lugar estranho. Em um mundo distante, diferente de tudo que eu já havia visto anteriormente. Estava assustada. A quietude daquele paraíso sussurava melodias secretas irreconhecíveis que só conseguiam ser captadas quando todos os sentidos se intercalavam. Era muito bonito olhar aquela melodia. Ela construía saudades na minha frente, retomando lembranças inventadas pelo meu medo em esquecer. Pequenas notas se prendiam em meus poros, sufocando o resto de ar armazenado em minhas células. Elas dançavam por entre os fios da minha pele, exalando uma certa condição de vida que eu nunca havia sentido anteriormente. A música mudava de cor, de forma, de estado, penetrando harmoniosamente por entre tantas montanhas que refletiam no ambiente uma vegetação harmoniosa, colorida. Lírios, rosas, flores do campo, margaridas. Aquele ambiente estava repleto de flores. Flores que exalavam distintos perfumes a cada novo acorde de sussurros, de mistério.
Havia um oceano naquele lugar. Um mar que mudava de cor a partir dos seus movimentos. Era lindo observar as ondas voando, soprando no infinito um vento aconchegante, que transmitia a sensação de um reencontro, de uma saudade. A inércia daquele movimento era tão grande que tudo parecia estar andando de volta, voltando para casa. 
O sol irradiava poucos raios de luz. Feixes de luz que abraçavam cada canto daquele lugar estranho, deixando um rastro quente, um frescor úmido, como um quente beijo na neve. Cada imagem de sombra parecia um filme de amor, onde estranhos se encontravam para despertar emoções únicas, inesquecíveis.
Foi inevitável não me deixar levar por tantos sentimentos. As lágrimas escorriam da minha face cada vez que o sol me trazia um novo beijo, um novo sentir. Meu corpo irradiava certa angústia em ser tão pequena diante daquela imensidão sem limites.
 O céu escureceu, mudando de cor constantemente. Era a lua que havia aparecido. Ela queria aquele lugar, queria transmitir sua própria paz, um novo sentir. O sol irradiou ainda mais seus raios, deixando no céu um rastro vermelho, laranja. Ele não queria sair, ainda era cedo. Ele iria lutar pelo seu espaço. Satélite e estrela: duas bolas gigantes que se encontravam e se debatiam entre si, exalando trovões, raios e relâmpagos. Luzes saíam daquele ambiente gritando gritos sufocados, assustados. A lua pediu a ajuda da chuva. A chuva enfraqueceu o sol, deixando um buraco imenso bem no meio do seu coração. A lua sentiu medo. Ela não poderia perder aquele calor para sempre e, tentando reverter tal situação, ela o abraçou, formando eclipses, difundindo amor.
Emoções distintas cantavam aquele lugar. Animais cantavam. Novas estrelas se posicionavam no horizonte. Nimbus dançantes despediam-se por alguns instantes, indo descansar no topo das árvores. As horas eram contadas pelo movimento de coisas que não paravam por um segundo.
Entardecer. Aurora. Já era dia novamente. De repente me deu vontade de amar. Senti saudade. Precisei voltar e acordei novamente de um novo sonho.



Essa música sempre me proporciona momentos assim.


25 abril 2011

Sem ver.

Um véu cobria a inocência de um olhar, redescobrindo a cegueira de uma vida, de certas ilusões.
A garota não sentia o toque, seu corpo havia sido anestesiado por um destino injusto, infiel. Ela sentia sede. Uma sede que ardia suas veias. Uma sede seca, sem sentimento.
Horas passavam, dias passavam e a menina chegava em lugar algum. Algum lindo lugar feito de nuvens e sonhos de papel. A menina imaginava vidas, histórias, recontava desejos perdidos em algum lugar daquela ventania. A menina não encontrava mais o seu nicho naquele mundo estático. Ela precisava se mover.
A ansiedade subia pelo seu pé, perna, barriga. Ela sentia aquela coisa se movendo dentro de si. Algo que não respirava, ela sabia. Era algo estranho que nascia da sua própria essência e criava raízes naquele chão duro, tentando aprisioná-la a um presente oculto, obscuro.
Gritos. Ela precisava gritar. Tirar aquela coisa cheia da sua garganta. Tirar aquela massa que atrapalhava a sua voz, sempre que ela precisava falar com alguém sobre a sua vida. A menina gemia, sussurava, tinha medo de sentir sua própria reflexão. Ela não sabia o que pensar, não sabia como agir. Só conseguia buscar um pouco da sua própria infelicidade. No fundo ela sabia que esse seria o seu destino. Ela não sabia como viver. Ela não sabia nem andar.
O céu estava escuro. As coisas estavam escuras por baixo daquele véu. Era difícil enxergar a beleza de uma vida por baixo de algo rígido, invisível. Só a menina sabia a dor de viver cega em um mundo que precisa ser sentido a cada instante. Era impossível viver sozinha. A menina sabia. E ela já tinha tentado gritar. Ela tentou retirar as grades daquelas prisões de lágrimas. Ela já não sabia como. Ela não sabia mais como viver.
Seus olhos tentavam enxergar novamente. A escuridão muitas vezes clareava sua própria sensibilidade, mas ela não sentia vontade de sentir nada que não fosse do seu próprio mundo. Era uma vida de sonhos, de voltas, de vindas, idas. Ela retornou a um começo. Ressentida. Ela estava presa num passado distante, que havia sido predestinado desde o seu nascimento. A menina acreditava em destino, o problema era esse.
O mesmo véu foi recolocado naquele pequeno rosto. Já era tarde demais para voltar atrás. Casa cheia. Convidados. Família.
A menina iria se casar com alguém que ela nem sequer conhecia. Ela ainda nem sabia o que era o amor.
Era preciso firmar seu próprio compromisso.
Era preciso viver.

Vida curta. Vida que bate sem direção. É díficil deixar o mundo passar diante de nossos olhos.
O piscar de um olhar aflito pode resumir instantes únicos.
Nunca se deixe enganar.


19 abril 2011

Vida velha.

Era velho o senhor sentado no banco de madeira. Cabelos grisalhos, ralos, pontudos. Feição enrugada, carrancuda. O velho devaneava pensamentos antigos. Pensava na vida que havia passado diante do seu olhar mudo, pensava em família, filhos, amantes de toda uma vida. Ele pensava se ainda poderia sonhar e a cada nova respiração seu corpo se enchia de esperança. Que a vida era curta ele sempre soube, só não sabia que a morte iria passear pelos arredores da sua vida tão cedo. Era cedo demais para morrer e um pouco tarde para concretizar sonhos perdidos.
As nuvens escuras denunciavam uma noite chuvosa. Raios, relâmpagos. O homem gostava daquilo. Quando criança usava a chuva como pretexto para se perder em abraços maternos, no calor de uma mãe que sempre conseguia afagar angústias e medos. Criança inocente, pequeno homem primitivo, que enchia os olhos de lágrimas só em pensar que um dia perderia aqueles abraços para sempre. Mas o tempo passou. A criança envelheceu e os abraços foram cortados pela frieza de uma adolescência distante. A vida é assim, o homem já havia pensado sobre isso. Ele não precisava mais daquela mãe, mas desejava aquele abraço. Ele precisava curar aquela angústia de vida, de fim. Vou desaparecer, vou sumir, vou ser um nada. O homem não tinha religião. Seria mais fácil encarar a morte desse jeito, mas ele sempre escolhia o caminho mais dífícil. Ele era forte. Homem fazendeiro que não tinha medo de superstições. Já tinha lutado com lobisomem e, certa vez, ficou perdido no meio da fazendo dias a fio por causa da Caipora. Êta orgulho que ele sentia quando contava certas histórias para os "menino barrigudo" que vinha fazer visita no fim de semana. Nada passava diante daqueles olhos atentos. O homem sabia dos perigos da vida, mas nunca fraquejou diante das suas dificuldades.
Tempo curto esse que passa deixando marcas e feridas profundas. Tempo que mata, tempo que ilude, amarga, alegra. Tempo doido esse que não dá pra ver, nem tocar consegue. Só sei que passa sem passar um segundo que possa apagar outros. O homem carregava as suas marcas inapagáveis. Seu corpo torto denunciava uma vida dura, sem muito amor. Ele pensava que não sabia amar, pois homem de verdade não ama e nem chora. Cabra macho é macho até morrer, e ele não ia perder a sua dignidade naquele momento.
Cheiro de carne frita. A barriga do homem fez um barulho estranho, parecido com a sua voz. Ele não falava, sussurava rugidos como se fosse um animal. Ele nunca tinha o bastante para dizer. O homem não sabia ler, não escrevia. Isso não era importante. A mão de um homem deve ficar calejada pela terra, e não por essas besteiras que o povo anda inventando por aí.
- Ô Zé, se quer comer vêm. - Disse uma senhora com dificuldade na porta da entrada daquela pequena casinha branca. A fazenda estava bonita naquela noite. Chuva era bom porque trazia dinheiro.
O homem olhou para a mulher. A mulher sorriu.
- Ô Zé, eu vou precisar ir te buscar é?
O homem olhou para a mulher. No fundo ele sabia o que era o amor.




12 abril 2011

Sentido.

Olhos fechados. Corpo fechado. Descobri um novo mundo dentro de mim. Sem pernas, sem olhos, sem destino. Sou um mero reflexo. Sou uma imagem de um tudo sem nada.
Sonhar. Sonhar. Acordei do mesmo sonho. Angústia. Ilusão. Não quero acordar novamente. Hoje eu prefiro escutar o mundo de fora. Prefiro sentir sussuros. Prefiro não ouvir vozes.
Silêncio. Foi o silêncio que tomou conta de mim. Pintou minhas paredes de branco. Preciso pintar novamente. Preciso colorir o silêncio. Preciso da sua verdade.
Meu peito arde. Minhas vísceras digerem meus sentidos. Não sinto coragem, também não sinto medo.
Acho que preciso pensar. Respirar. Respirar? Não sinto um pulmão. Ele fugiu. Meu peito está vazio novamente. Ar. Ar. Ar. Ar. Preciso de ar. Está frio. Sinto frio.
Me sinto pequena. Uma face daquilo que não pode ser visto. Tenho medo de desvendar tantos mistérios. Prefiro me calar. Ouvir o silêncio tomar conta do meu mundo. Dividir meu corpo em partes distintas.
É. Eu sou um pouco de um tudo que eu ainda não conheci. Eu sou dois mundos fundidos em partes insolúveis. Incógnita. Dor. Isso dói. Preciso de uma verdade concreta, mas as verdades fogem das minhas mãos junto com o vento. O vento carrega tudo. O vento deixa as lembranças. Talvez um ressentimento possa me prender. Preciso caminhar.
É difícil enxergar a luz. Está escuro. No escuro os pensamentos me prendem. Pensamentos tomam conta de mim. Pensamentos que paralisam.
É. Acho que estou com saudades do meu sorriso. Ontem eu pendurei a alegria na janela. Estava frio. Não sei se ainda posso encontrá-la. A alegria fugiu diante do meu olhar e agora é esse mesmo par de olhos que eu preciso encarar no mesmo reflexo de todos os dias.
Descobri que minha alma se fundiu. Ainda restam algumas partes de mim. Preciso me concentar.


17 março 2011

O estranho.

Menina do interior, Sara não acreditava no amor. Ela gostava de viver sozinha, sonhando pensamentos impossíveis, sem muita significação. O seu mundo particular já tinha muitas cicatrizes. Sem pai, sem mãe, criada por uma tia, Sara não se sentia no direito de ter muitas pretensões. Ela já tinha direcionado sua infeliz vida a um fracasso inconsciente. Ela não conseguia sentir. Seu corpo estava frio, rígido, sem vida.
Como sempre, a menina havia se atrasado para aula. Ela não tinha tanta disposição para aquilo tudo. Queria ir embora, junto com o pássaro que havia crescido na sua janela. Mas suas raízes estavam fortes demais para deixá-la tomar alguma iniciativa.
Sara suava. O ponto de ônibus cheio não a deixava respirar, deixando-a sufocada com tantos cheiros, tantas vozes, tanta agonia. Ela não gostava muito das pessoas. Aquilo era um tormento diário. Ela precisava partir.
Palavras soltas voavam em seu pensamento de menina. Ela queria ser atriz, queria cantar, queria poder aparecer diante de alguém. Era muito difícil ser invisível diante de tantos olhos atentos. O silêncio que ela tanto procurava estava longe dali, em algum lugar que ela não conseguia alcançar.
E foi nesse conflito matinal que Sara o viu, sentado, segurando um caderno velho, meio desbotado. O menino usava uma blusa preta e um jeans, que parecia estar mal passado. O vento ainda conseguia enamorar aqueles cabelos pouco lisos, pretos. Um all star velho estava em seus pés. Lindos pés, por sinal. O garoto se movia sempre que um ônibus se aproximava. Seu corpo encurvado deixava claro um ar de preocupação, e Sara sabia que ele também estava incomodado de estar ali.
A jovem menina suava. Corpo, pernas, braços e, pela primeira vez, ela escutou o seu coração. Ele batia. Ela sentia. O tremor de duas pernas frágeis rangiam todo o corpo magro daquela jovem. Seus lábios, úmidos, se contraiam, se esticavam, mordiam. Ela queria andar, chegar mais perto, mas estava pesada demais. De repente tudo ficou pesado demais. A menina sabia, ela já tinha visto em filmes, mas ela não acreditava no amor, muito menos em um amor de primeiro encontro. Nada poderia ser tão rápido assim. Ela estava sentindo alguma coisa, deve ter sido o café da manhã ou o remédio para dormir. Talvez aquilo, talvez isso. O que fazer agora? Ela não sabia. Seus olhos sabiam. Eles queriam olhar, admirar cada pedaço daqueles charmosos ombros, daquela boca que se movimentava levantamente, como se cantasse alguma canção. Que música ele poderia estar cantando? Será que ele gostava daquela banda que ela havia escutado para dormir naquele dia? Será que ele gostava de chuva, de pipoca, de macarrão?
De repente a jovem começou a sentir algumas coisas que ela não sentia. Ela queria dançar, conversar sobre aquilo com as pessoas. Ela queria saber o nome dele. Qual seria? João? Não, ele não tinha cara de João. Talvez Gabriel, Tiago, Eduardo, Ricardo. É, ele tem cara de Ricardo.
As mãos da jovem se fechavam enquanto, de olhos abertos, ela sonhava caminhar com ele, apertar sua mão, beijar aquela bochecha alta, meio cinza por conta da barba que estava nascendo. A jovem menina estava à flor da pele, deixando o rosado do seu corpo se entregar a um jovem rapaz, que ela nunca havia visto em sua vida.
O que será isso? - Ela se perguntava a todo o momento. Todos já deviam estar notando. Ela não podia deixar ninguém perceber, mesmo sabendo que ninguém se importava.
Sara queria se aproximar. Sentir aquele cheiro novo. Guardar aquele cheiro para depois. Ela sabia que iria sonhar. Ela precisava. Ela já estava pensando.
O jeito que o garoto olhava a rua e balançava os pés deixavam a jovem anestesiada. O que fazer com tanto sentimento? E agora que o coração ficou acelerado? Sara não sabia lidar com aquilo. O amor de menina chegou tarde demais, sem tempo para ensinamentos. Mas já tinham falado para ela que nunca seria tarde para acreditar no amor. Ela não acreditava, ela não sabia diferenciar seus sentimentos. E agora estava ali, sozinha, como uma jovem e sua menarca, sem instruções de como agir, de como falar, de como se portar.
De repente ele se viu ajeitando os cabelos. Os ombros começaram a se posicionar, e ela sentiu que estava desajeitada depois de tanto arrumar. Ela não tinha o que arrumar. Ela não sabia.
Será que ele olhou para trás? Será que ele me viu? Não. Ele não pode ter me visto. Eu não ia aguentar. - Pensamentos rondavam a jovem. Pensamentos não a deixavam pensar. Onde está todo mundo? Todos sumiram. Agora era só ele, era ela. Os dois, sozinhos, em um ponto de ônibus vazio. Era a chance da jovem. Ela ia apostar em seu charme récem descoberto. Ela ia apostar. Será?
E foi nesse momento que o menino entrou em um ônibus invisível e sumiu. Ele sumiu no meio de tantas pessoas. E a jovem ficou ali, parada. Ela havia perdido seu primeiro amor.
Será que amanhã ele vai estar ali? A jovem olhou no relógio. Ela programou sua alma para a espera de um novo encontro. E ela sabia que ia demorar. Já estava demorando. O que seu amor poderia estar fazendo agora?
O ônibus chegou. Sara despertou. Era hora de seguir viagem. Ela catou pedaços do próprio coração. Não queria deixar nada para trás. Aquilo era bom demais para ser jogado fora.



Não preciso de palavras para definir o amor. Eu não preciso disso. A complexidade de sentidos que ele carrega consigo já é suficiente. Não preciso entender, só sentir.
Quem nunca amou à primeira vista?




Hoje eu quero escutar......................

Bell X1 - Eve the apple of my eye

10 março 2011

Filmes para o fim de semana...

Um bom filme sempre tem algo novo para acrescentar em minha vida. Hoje eu resolvi fazer uma pequena seleção de alguns filmes que me marcaram, em algum momento.

Para quem gosta, aqui vai umas dicas para o fim de semana.

Filme: Paixão Proibida (Onegin).
Estrelado por Ralph Fiennes e Liv tyler.

Esse filme é uma linda história de amor. Retrata a história de uma jovem (Liv Tyler) que se apaixona perdidamente por um rico e charmoso homem (Ralph Fiennes), que demonstra não estar preparado para dar conta de algo tão efêmero.
                                           
                               Muitas vezes só damos valor a alguma coisa quando perdemos.

Aqui está o trailer do filme.
Está sem legenda, é um filme díficil de encontrar, mas dá para entender. E quem não entende inglês, sinta-se à vontade para saborear a linda fotografia desse filme.

                                                                               Trailer de Paixão Proibida     


                                       Cenas do filme. Trilha sonora de Beethoven: 
                                                                                        Sonata nº 14.


Filme: Cidade dos anjos.
Estrelado por Meg Ryan e Nicholas Cage.

"Existem mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia"
                                                                                         Shakespeare.

Esse é um filme que eu não me canso de ver... Lágrimas ainda aparecem em meus olhos, mesmo sabendo o final, a história, etc, etc.
Lindo...


Cenas do filme. Trilha sonora de Sarah Mclachlan - In the arms of an angel.





And the oscar goes to....

Para quem gosta de ir ao cinema, recentemente assisti Cine Negro.
Não tenho nem comentários sobre esse filme. Fantástico.
Ele ganhou o "meu" oscar pessoal, por isso fiz a brincadeira (ainda acho que esse filme merecia).

Trailer do Cine Negro.
Estrelado por Natalie Portman.


Filme: Beleza Roubada
Estrelado por: Liv Tyler.
Direção: Bernardo Bertolucci (o meu favorito de todos).

Esse filme se passa na Itália, então vocês podem ter uma pequena noção da fotografia que ele carrega. Não só isso, a trilha sonora também é muito boa.

Não é um filme muito dinâmico, mas eu amei cada detalhe.
Fica a critério de cada um.





Por enquanto vou deixar esses quatro filmes. Depois eu vou acrescentando, aos poucos, a minha lista de filmes.

Até a próxima...


Hoje eu queria ficar de bobeira, pena que não dá. A vida passa rápido demais para eu ficar sentada pedindo carona.
Não devia ser assim, eu sei.

01 março 2011

"O fim pode ser o começo"

                                                                                                            Kiwi!

Estava debruçada na grande janela de vidro, tentando esvaziar uma mente cheia de significações e medos. O mar estava límpido, deixando ainda mais visível o esfumaçar das ondas, que dançavam em sintonia com o vento frio de inverno, como se já fossem grandes amigos.
Segundos passavam como se fossem pequenas horas contadas, fazendo o tempo se reduzir drásticamente. Tudo ficou calado de repente. As vozes na rua se transformaram em pequenos sussuros. Os carros, buzinas, xingamentos, rangidos, nada mais importava. O horizonte havia hipnotizado meus sentidos, fazendo um olhar cego enxergar uma realidade até então nunca vista. Eu estava presa. A angústia começava a subir pelo meu corpo. Barriga, pernas, braços. Tomando conta de tudo que eu achava ter a capacidade de controlar.
Meus olhos não choravam. As lágrimas não se atreviam sair. Extravasar aquele sentimento não iria ajudar. Eu precisava pensar.
As horas passavam, os minutos passavam, e as batidas do relógio pareciam facas entrando dentro do meu coração. Foi nesse instante que o horizonte começou a dançar a sua própria arte, modificando suas cores, seu sentido. O sol, que ainda estava no céu, começou a dançar a sinfonia daquele momento singular, deixando seus raios ainda mais expostos, ainda mais fortes, complexos. A sua luminosidade penetrou pela janela de vidro, fechando minhas púpilas sem nenhum perdão.
Nesse instante eu me calei. Não queria ver, não queria ouvir, nem falar. A única coisa que meu corpo pedia era uma nova certeza de mudança. Precisava encarar meu espírito, meus medos, fazendo nascer uma nova flor, entre tantas que já brotaram no meu jardim de vida.
O ar que entrava pelos meus pulmões redescobria caminhos esquecidos intencionalmente, trazendo à tona tudo que havia sido passado, um dia.
Uma força estranha subia por minhas entranhas, explodindo meus orgãos, minha pele, refletindo, até mesmo, em meus olhos fechados. Essa força queria o impossível, queria acreditar no mais absurdo dos sonhos, queria me fazer viver.
Já era hora de mudar. Era hora de encarar novas situações, de abrir minha mente para novos horizontes. Eu precisava descobrir meus próprios segredos, desejos, sucessos. Era hora de acreditar.
E foi assim que eu preparei minhas ferramentas para construir um novo futuro. Joguei uma corda na imensidão de tantos conflitos e comecei a subir. Escalando aos poucos a dor de encarar momentos frágeis. Sempre foi difícil não conseguir. Sempre foi fácil boicotar meu próprio caminho.
A batalha começou. Um novo começo para um novo fim.

É... Muitas vezes só procuramos algo novo quando o fim já foi posto em nossas mãos.
Escolhas são feitas. Destinos traçados.
Nada é impossível para quem acredita em uma nova possibilidade de vencer.


Ps: O pássaro do vídeo não voa.

27 fevereiro 2011

Ver sem ver.

- A letra dessa música é linda. - Falou uma das moças.
- É? Eu nunca reparei na letra. - Respondeu a outra.
- Oxe. Como você nunca reparou na letra? Essa música toca toda hora na rádio, você já ouviu várias vezes.
- É. Eu já ouvi mesmo, mas nunca senti.

Essa não é uma situação inédita em minha vida. Quantas vezes eu já ouvi sem ouvir? Já vi sem ver? Já toquei sem sentir? Quantas coisas já passaram por mim e eu não me importei?
Muitas pessoas, quando chegam ao fim da vida, reclamam por tudo ter passado rápido demais. Os anos foram segundos, instantes jogados na terra, muitas vezes sem nenhum tipo de significação. Amores são esquecidos, traídos. Amigos deixados com o tempo. A correria da vida acaba fazendo a gente passar por cima de sonhos, de momentos. E a vida acaba se tornando um mero enfeite, invísivel diante olhos distraídos. 
Hoje eu me pergunto porque eu me nego sentir? Porque é tão difícil me entregar ao vento suave do mar, ao brilho de pequenas estrelas no céu, ao nascer do sol? Porque é tão difícil sentir meus pés, minha pele, o peso dos fios de cabelo sobre minha cabeça? Porque eu deixo a pressa apagar meus sentidos, meus medos, minhas angústias?
Eu preciso de olhos visíveis, de uma pele sensível ao meu próprio toque. Eu preciso abraçar alguém e sentir o trânsito do calor daquele corpo em contato com o meu. Preciso sentir meus olhos, minhas lágrimas, minha boca, meu sorriso, minha respiração. Preciso entrar em contato com um lado novo da minha essência, da minha verdadeira alma.
A vida só passa em segundos, porque vivemos em busca de algo que ainda não aconteceu. Precisamos sentir cada instante, como se fosse único. Precisamos ter certeza de que estamos vivos, para que assim nosso espírito não se perca diante do nosso próprio olhar.
É importante buscar a certeza e o motivo de estarmos aqui, nessa vida, nesse instante.
Não deixe sua vida passar diante dos seus olhos.
A vida é agora.
Viva!
 

Dica de filme..



"A Jovem Rainha Vitória" - Jean-Marc Vallée

 Linda fotografia e trilha sonora. "A jovem rainha Vitória" tem um foco maior na história de amor de Vitória com Albert de Saxe-Coburg, interpretado por Rupert Friend.
 Esse é um daqueles filmes que você assiste e sente vontade de ver novamente.

"Você é a unica esposa que terei. Você é toda a minha vida. 
E eu vou amá-la até o meu último suspiro."

Tudo bem. Eu aceito, Albert.
hahahahaha

21 fevereiro 2011

Devaneio.

A carapaça sempre desviava o verdadeiro olhar e só agora ela conseguiu perceber que era impossível enxergar no meio daquela escuridão.
Renuncie. Pense a respeito.
Seu olhos já estão fadados a um destino escuso. Não se deixe enganar.
Às vezes um torto olhar revela novos caminhos, novas oportunidades.
ToC. ToC.
Essa é a sua chance, a sua verdade. Deixe uma nova escolha bater em sua porta. Você pode reconhecer.

Mudança?

Não sei ao certo. Prefiro ficar aqui e descansar a alma para um outro dia.
É... Melhor esperar no amanhã uma resposta que já foi entregue ontem.

Mudar? Não preciso disso. Cansa demais. Até demais.

18 fevereiro 2011

Às vezes eu falo demais, choro demais, penso demais. Queria não pensar tanto. Porque é tão difícil esquecer?

         Muitas vezes não sei se estou viva ou se estou morta. O tempo muitas vezes se perde dentro da imensidão dos meus pensamentos, e eu acabo perdendo momentos. Às vezes tento juntar os pedaços da minha alma, em outros eu tento separar cada pedacinho, para que assim eu não possa enxergar.
            Descobri que com o ar da minha respiração eu consigo apagar temporariamente o que eu vejo através do espelho, e só assim eu consigo me convencer de que estou bem. Só assim eu consigo diferenciar o que eu vejo do que eu realmente sou.

Camila Alves, 2010.

Acordei com vontade de cumprimentar o sol...

 




    Nunca sinta inveja do poder, ele cega. Sinta-se capaz de amar além de tudo. O amor é a única coisa capaz de reconstruir uma vida.

Imagine só...


- Mãe! Você já viu o tamanho do queijo que tem no céu? - Gritou um menino assim que encontrou a mãe.
- Queijo, Marcelo? Qual queijo? - A mãe perguntou sem dar muita importancia para aquela situação.
- É enorme! É um queijo gigantesco, mãe! - Falou o menino.
- Venha tomar café! - Disse a mãe, empurrando uma das cadeiras para que o menino pudesse se sentar.
- Você não está curiosa pra ver o queijo? - Perguntou o menino depois de alguns segundos em silêncio.
- Queijos não voam, Marcelo! Queijos não voam, só os pássaros voam. - A mãe respondeu rapidamente. Ela estava cansada, sem paciência para acalmar a angústia daquela criança.
- Mas e o avião? - Voltou a perguntar o menino.
- O que é que tem o avião, Marcelo? - A mãe falou enquanto colocava um pedaço de pão na boca.
- O avião é um carro que voa. Você algum dia pensou que carro poderia voar? - Perguntou o menino.
- É diferente, Marcelo. É diferente. - Falou a mãe.
- Diferente como?
- Diferente é diferente, Marcelo.
- Mas mãe, você não quer ver o queijo? - O menino voltou a falar depois de ficar alguns minutos encarando o prato de sopa que a mãe havia colocado em sua frente.
- Queijos não voam, Marcelo. Você não entende isso? Eu vou perder a paciência se você não comer essa sopa agora. Eu trabalhei o dia todo, estou cansada, você não vê? - A mãe falou, impaciente, esperando ansiosamente pelo fim daquela conversa.
- Mas eu vi, mãe. Quando vejo alguma coisa, eu sei. Quando você vê essa mesa, você sabe que é uma mesa, né? Eu vi com os meus olhos, mãe. Era um queijo, igual aquele redondo que você comprou aquele dia. - O menino ainda acreditava na sua verdade.
 A mãe, sem paciência, foi andando até a varanda e olhou para o céu dizendo:
- Cade o queijo, Marcelo?
 O menino pulou da cadeira e, com um grande sorriso no rosto, apontou para uma bola amarela no céu.
- Ali, mãe! Ali o queijo! - Disse ele, eufórico de alegria.
- Marcelo, meu filho. Não sei de onde você tira tanta "lorota" dessa sua cabeça. Isso é a lua, Marcelo. É a lua. - A mãe deu meia volta e foi andando em direção ao seu quarto. O menino ficou ali, parado, digerindo aquilo que ele havia acabado de ouvir.
- É a lua. - Falou ele depois de algum tempo, sem demonstrar nenhum tipo de interesse. - Eu ia gostar mais se fosse um queijo voador.

 Marcelo só tinha cinco anos de idade. Ele ainda estava aprendendo a enxergar o mundo real.
 
  É... Às vezes nos falta um pouco de imaginação.



                                                                
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