Foto: Mariana Andrade.
O silêncio guarda segredos que as palavras nunca conseguirão desvendar. O silêncio cita devaneios antigos, traz à tona sentidos esquecidos, sem nenhum significado. O silêncio brinca com sonhos, com olhares, com sentimentos. O silêncio fala. Consegue traduzir a vida intensamente, deixando os ruídos com ciúmes por não conseguirem carregar tamanha dualidade: Um vazio cercado de entendimento.
E assim o tempo se apagou. O tempo se apagou e trouxe consigo o silêncio, a quietude, o encontro com aquele vazio esquecido em outrora. O tempo se apagou e levou consigo as velhas palavras. Era como olhar sem sentir, era como um corpo sem alma que queria gritar, mas não produzia som. Foi assim que a menina gritou o silêncio e o vácuo preencheu sua existência, enchendo-a de uma coragem medrosa.
A menina passou a gostar dessa fuga de palavras. Fugiu para um lugar distante, cheio de pequenas gaivotas e gaitas que cantavam sozinhas. Ela não queria mais encontrar sentido nas velhas vidas passadas, ela queria somente resgatar as vogais que haviam fugido dos seus pensamentos. A menina passou a não sentir a lógica, ela não obedecia aos mesmos padrões, ela dançava no escuro, pintava seu quarto de amarelo. A menina não queria sorrir por fora e, como uma bomba, soltava gargalhadas presas dentro do seu vazio. Será que ele aumentaria?
Deitada na cama, a menina podia ouvir as palavras correndo e atravessando o vão da porta. Disseram que alguém poderia roubá-las. Quem poderia roubar as palavras de alguém? Mas a menina deixava, ela deixava qualquer coisa. Ela deixava a porta aberta, o chão aberto, o teto sem estrelas. A menina deixava passar qualquer resquício de falta, ela não precisaria mais sentir saudades, haviam roubado isso, também. Sorrisos? Será que roubariam?
A menina simplesmente deixava o tempo escorrer entre seus dedos. Já era dia, já era noite. Um entardecer trazia sua beleza e no amanhecer ela respirava a brisa de um recomeço. A menina gostava de jogar as palavras na parede. Gritava os restos do que havia sobrado e deixava lá, escorrendo por entre as frestas sujas de sentimentos cuspidos. A menina queria sentir uma nova vida, um novo nascer, diferente do seu. Agora ela precisaria renascer por entre espinhos e buracos escondidos, cavados e encobertos por ela mesma. Era um destino mal traçado, perdido em meio de sonhos acordados. Estranho, não? Ela não entendia tantos pensamentos partidos.
E foi assim. Foi silêncio. Ela só precisaria de um pequeno novo tempo, perdida em si mesma. Ela partiria em uma viagem de vida, agora só, como ela sempre quis. Agora ela iria buscar suas palavras, amarrá-las em seu coração e carregá-las como uma criança que precisa de cuidados. Ela precisava de ideias, de tempo, de espaço. Era estranho ter aquele vazio tão pequeno, ela sabia. Agora tudo estava bem. Ela só acumulava coragem. A pequena nuvem ainda estava confortável. Era preciso sonhar.