20 junho 2011

Desilusão.





Joana só conseguiu escutar o silêncio quando percebeu que estava sozinha. Dias passam, Joana. Horas passam. Momentos devem ser esquecidos em sua memória para sempre, e para sempre serão lembrados como tristes lembranças de um passado que se foi.
Joana tentava respirar e sentir o seu corpo. Sentir a única coisa que havia sido sua por tanto tempo e que ela sabia que não a deixaria sozinha. Joana não precisava chorar, mas seus olhos guardavam tantas dores que nunca a deixaria ser forte o suficiente. Ela se sentia fraca demais para suportar aquela dor. Horas passam, Joana. Dias passam. O tempo passa. O tempo acaricia, assopra em seu ouvido e te avisa que já é hora de seguir. Seria bom abrir os olhos, Joana. Seria bom abrir asas e procurar seu verdadeiro horizonte. Seria bom deixar passar, Joana. Passe. Não deixe os passos passarem diante de ti como flashes de uma utopia. Agora é hora de mudanças. Você precisa encarar.
Mas Joana não conseguia suportar aquela dor. Cada segundo passava rasgando seu coração em pedaços. Ela queria gritar, jogar tudo para um lugar longe, distante de sua vida, de seus olhares. Ele havia partido, ela sabia. E nunca mais aqueles olhos seriam seus novamente. Abraços, beijos. Mais uma vez o amor havia sido descartado e Joana precisava seguir. Ela olhava para aquele ambiente vazio, tentando encontrar resquícios de uma nova solidão, mas seu peito de enchia de saudades. Uma saudade dolorida, sem ter pretensão de ir embora. Saudade que bate na porta do peito e entra em ser convidada, invadindo pensamentos, incluindo novos medos. Joana precisava trancar seu coração por um tempo. Ela precisava guardar o coração. E se a dor ficasse no peito? Joana precisaria arrancar pedaços de seu corpo. Seria difícil. Joana decidiu guardar as lembranças. Ela pegou as malas. Guardou fotos, histórias, sorrisos, presentes e aconchegos. Joana guardou tudo. Não restou nada. Ela olhou atentamente para aquele espaço vazio. Ela precisava preencher aquilo antes que seu corpo ficasse fraco e desistisse daquela decisão. Joana olhou novamente para aquele vazio. Será que seria agradável?
Olhar o vazio a fazia lembrar aqueles olhos. E ela lembrava do último beijo, do último carinho. O vazio trazia lembranças daquele farol iluminando a dolorosa partida, da decisão, de toda a desilusão que ela foi forçada a sentir. Joana segurou o peito e tentou arrancar o próprio coração. Ela tentou gritar suas vísceras, jogar seu medo para o passado. Ela precisava aceitar. Ela precisava encontrar seu novo eu perdido naquela imensidão de lágrimas. Joana lembrava dos abraços. Joana lembrava dos abraços. Pés juntos, Joana. No frio um abraço cura, ela sabia. Por isso ela separou um novo cobertor. Ela separou uma nova cama, uma nova pintura, uma nova vida. Ela separou as velhas lembranças, colocando-as em um lugar que não poderia encontrar tão cedo. Quem sabe um dia elas não poderiam se tornar agradáveis lembranças de um doce passado? Joana pintou sua vida. Era preciso controlar as lágrimas. Ela as enxugou, e mais uma vez as enxugou novamente. Joana foi até um canto antigo e retirou outra mala. Essa era a mala de sonhos, era a mala de vida. Joana a abriu. Ela sabia que ainda poderia encontrar sorrisos. Ela sabia que iria vencer. Bastava acreditar, ela sabia. E assim um coração começou a remendar seus próprios pedaços. E os pés sentiram uma firmeza necessária para partir. O corpo respirou. Joana sorriu. Joana chorou. Joana guardou aquilo. Joana procurou. Joana sentiu que certas forças iriam aparecer. Ela precisava sentir aquela dor. Ela precisava aprender. Afinal, o que é vida senão um manto de desilusões e acertos?
Era preciso viver. E a vida traz suas próprias dores. A vida ensina, Joana. A vida ensina como se deve respirar. A vida ensina a não errar com os próprios erros. A vida ensina a escolher. A vida ensina.




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"Hear me
Take me

Mold me

Break me a God

Just fill all of me

As i fall Into you"

















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