20 março 2014

Ciclos.




Sinos da meia noite despertaram um cansado sono de menina que fantasiava entre sonhos e devaneios de uma noite comum. Sem temer um sonho despertado, a menina resolve abrir os olhos, deixando a escuridão calada entrar devagar pelas frestas de uma janela fechada, que a protegia da solidão e do silêncio que vagavam perdidos fora dali.
No conforto do seu despertar, a menina devaneava pensamentos com pouco sentido, deixando somente que a sua respiração calma tomasse conta do seu espírito e da sua mente vazia e sonolenta. Era mais um despertar comum, sentido e vivido entre um silêncio incomum de carros que passavam apressados e faróis que pareciam estar distantes dali. Da janela, a menina só conseguia ver uma luz fraca, vinda de um poste velho de rua que havia se sentado em sua frente para que ela não sentisse medo... E assim, ela agradecia.
Passando pela janela, a luz pintava as suas cores, deixando o amarelo transformar-se em laranja e em sombras, que se mexiam como um vento frio de inverno. As pequenas frestas claras de luz que insistiam em entrar naquele quarto vazio preenchiam de alguma forma algo que ainda estava desacordado e que a menina ainda não conseguia encontrar. Estava escuro, havia silêncio e de longe aconteciam ciclos de vida que começavam e terminavam naquela madrugada indiferente.
A menina não queria fechar os olhos, estava indiferente ao seu cansaço. Não havia sol, não haviam sorrisos e também não havia lágrima, nem tristeza. Só havia indiferença. A menina sabia que a partir dali seria só mais um novo dia vestindo uma rotina que insistia em parecer diferente, mas era sempre igual. Era um novo acordar, um café, um sol, alguns desconhecidos com sorrisos estampados e um pouco de cansaço revestindo um amanhecer diferente daquele. Era a rotina, pensava a menina enquanto, automaticamente, escolhia a sua roupa, vestia-se com a sua timidez e partia em busca de sonhos repartidos e remendados. Ela partia em busca de uma nova rotina, de um novo tempo, que sempre parecia igual. Mas, naquela noite, as luzes dançavam de uma maneira diferente. As luzes faziam curvas no armário e desenhavam pequenas bolhas que pareciam sumir por trás da grande porta de madeira. A diferença fez então com que um sorriso se esboçasse no rosto da menina, que gostou e sentiu intensamente aquele novo ciclo ou aquela nova página que se virava naquele exato momento.
Naquele instante, a menina percebeu que o sorriso pode estar escondido nos pequenos detalhes e que a diferença está viva dentro da particularidade de um olhar... Só era preciso enxergar e perceber que em cada página, temos novas vogais, novas palavras e novos pensamentos. Assim, a menina percebeu que não precisaria esperar um novo amanhecer ou um novo dia para que as coisas continuassem... Para acontecer, bastava que ela entregasse a sua existência e conseguisse viver com um novo olhar a cada novo dia.

Páginas são viradas a todos os momentos, novos ciclos virão e novos passados serão concretizados e deixados para trás. Para seguir, é necessário deixar que um novo amanhecer nasça dentro do seu coração, deixando, assim, que uma nova vida e um novo despertar sejam concretizados no âmago da sua existência. E assim, algumas coisas serão saudade, e só... E para sempre vão existir dentro do coração, em forma de um amor puro e sincero. Esse é o passado que buscamos ao abrir o nosso coração para tantos novos recomeços.



2 Comentários:

allmylife disse...

Moça não desapareça assim da blogosfera! Adoro seus contos...estes recomeços são um sopro de ânimo na vida já tão decorada e ferida! =)

Luís Monteiro disse...

É, muitas coisas na vida viram saudades. Na minha, já nem sei em qual canto guarda as mais recentes.

Boa noite,

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