Sinos da meia noite despertaram um cansado sono de
menina que fantasiava entre sonhos e devaneios de uma noite comum. Sem temer um
sonho despertado, a menina resolve abrir os olhos, deixando a escuridão calada entrar
devagar pelas frestas de uma janela fechada, que a protegia da solidão e do
silêncio que vagavam perdidos fora dali.
No conforto do seu despertar, a menina devaneava
pensamentos com pouco sentido, deixando somente que a sua respiração calma
tomasse conta do seu espírito e da sua mente vazia e sonolenta. Era mais um
despertar comum, sentido e vivido entre um silêncio incomum de carros que
passavam apressados e faróis que pareciam estar distantes dali. Da janela, a
menina só conseguia ver uma luz fraca, vinda de um poste velho de rua que havia
se sentado em sua frente para que ela não sentisse medo... E assim, ela
agradecia.
Passando pela janela, a luz pintava as suas cores,
deixando o amarelo transformar-se em laranja e em sombras, que se mexiam como
um vento frio de inverno. As pequenas frestas claras de luz que insistiam em
entrar naquele quarto vazio preenchiam de alguma forma algo que ainda estava
desacordado e que a menina ainda não conseguia encontrar. Estava escuro, havia silêncio
e de longe aconteciam ciclos de vida que começavam e terminavam naquela
madrugada indiferente.
A menina não queria fechar os olhos, estava
indiferente ao seu cansaço. Não havia sol, não haviam sorrisos e também não
havia lágrima, nem tristeza. Só havia indiferença. A menina sabia que a partir
dali seria só mais um novo dia vestindo uma rotina que insistia em parecer
diferente, mas era sempre igual. Era um novo acordar, um café, um sol, alguns
desconhecidos com sorrisos estampados e um pouco de cansaço revestindo um
amanhecer diferente daquele. Era a rotina, pensava a menina enquanto,
automaticamente, escolhia a sua roupa, vestia-se com a sua timidez e partia em
busca de sonhos repartidos e remendados. Ela partia em busca de uma nova
rotina, de um novo tempo, que sempre parecia igual. Mas, naquela noite, as
luzes dançavam de uma maneira diferente. As luzes faziam curvas no armário e
desenhavam pequenas bolhas que pareciam sumir por trás da grande porta de
madeira. A diferença fez então com que um sorriso se esboçasse no rosto da
menina, que gostou e sentiu intensamente aquele novo ciclo ou aquela nova
página que se virava naquele exato momento.
Naquele instante, a menina percebeu que o sorriso
pode estar escondido nos pequenos detalhes e que a diferença está viva dentro
da particularidade de um olhar... Só era preciso enxergar e perceber que em
cada página, temos novas vogais, novas palavras e novos pensamentos. Assim, a
menina percebeu que não precisaria esperar um novo amanhecer ou um novo dia
para que as coisas continuassem... Para acontecer, bastava que ela entregasse a
sua existência e conseguisse viver com um novo olhar a cada novo dia.
Páginas são viradas a todos os momentos, novos
ciclos virão e novos passados serão concretizados e deixados para trás. Para
seguir, é necessário deixar que um novo amanhecer nasça dentro do seu coração,
deixando, assim, que uma nova vida e um novo despertar sejam concretizados no âmago
da sua existência. E assim, algumas coisas serão saudade, e só... E para sempre
vão existir dentro do coração, em forma de um amor puro e sincero. Esse é o
passado que buscamos ao abrir o nosso coração para tantos novos recomeços.
2 Comentários:
Moça não desapareça assim da blogosfera! Adoro seus contos...estes recomeços são um sopro de ânimo na vida já tão decorada e ferida! =)
É, muitas coisas na vida viram saudades. Na minha, já nem sei em qual canto guarda as mais recentes.
Boa noite,
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